O Fluxo
Gostaria de compartilhar uma experiência muito legal com
vocês. Hoje vou falar sobre nossa muito conhecida impermanência. Nos vários
ensinamentos que tivemos a oportunidade de ouvir, sempre há uma explicação
recorrente a impermanência de todas as coisas, dentro deste fluxo ininterrupto
que é a nossa existência.
Eu particularmente sempre tive dificuldade em entender este
ponto como uma experiência apesar de entendê-lo intelectualmente. A partir de
uma vivência pessoal tentei aplicar o treinamento e obtive vivencias muito
esclarecedoras.
Como funcionou na minha experiência?
Entender o fluxo nos possibilita compreender todo este
processo dos momentos felizes/infelizes. Quando estamos passando por uma fase
positiva as coisas fluem ao redor, e mesmo as pessoas com quem você convive
parecem estar no mesmo movimento salvo raras exceções e estas geralmente são
pessoas com que não mantemos uma relação muito próxima.
As coisas dão certo, você está seguro de si mesmo. Tudo
parece estar nos eixos como deveria ser. Então relaxamos e nos desligamos dos
nossos questionamentos, nossa prática se torna serena e gratificante. Pronto: podemos
perceber o primeiro sinal de que alguma coisa está se movendo. Tá tudo muito
certinho ai pensamos: “Poxa preciso parar com essas coisas de: Ahhh! Tá tudo
muito bom, tá tudo muito bem , Iiiii, vem coisa por ai, tá tranquilo demais”.
Acho que todos já “experienciamos” essas pequenas auto-profecias
não é mesmo? E pensamos no velho fator da culpa de que não merecemos estar
felizes por muito tempo com tanta infelicidade rondando a nossa volta. Enfim
como é o processo?
Para mim pude perceber que quando este movimento se inicia
as coisas começam a se complicar na nossa mente. Entramos num momento de
turbilhão, questionamentos, julgamentos. Todos nos parecem injustos, as coisas
não são como deveriam ser, nos sentimos agredidos pela vida e começa todo um
processo de autojulgamento e rebeldia. Ai está o ponto, se mantemos nossa
postura egóíca somos incapazes de perceber o que ocorre a nossa volta, pois nos
encapsulamos em nossos próprios problemas e somos incapazes de perceber o
fluxo. Graças ao meu treinamento consegui afinal visualizar esse movimento e
resolvi mudar a minha postura e minha visão da “coisa”.
Aos primeiros sinais da revolta contra tudo e todos resolvi mudar
a posição do observador, de centro da ação para coadjuvante, e gente, foi
incrível como tudo ficou claro dentro desse processo. Primeiro você percebe que
ao fazer com que tudo gire a sua volta você deixa de perceber as nuances da
participação das outras pessoas no processo, ou melhor ainda, de como o
processo abarca todos a sua volta. Como um observador passivo, pude ver a nuvem
se formando. Automaticamente, ao prestar atenção no outro e deixar minha
posição egóica de lado, vi que as pessoas a minha volta começaram a ter
momentos negativos de doença, disputas, tristezas, perdas, tudo muito claro,
tão claro que me assustei com a obviedade daquele fluxo. Ainda pairam muitas
questões, claro, mas só meus professores poderão me ajudar nesse caso, é muito
pro meu caminhãozinho.
Então concluindo, façam o teste, mais que nunca agora
acredito que estes momentos de harmonia na vida e dentro da prática são
intervalos para se preparar para o “pancadão”. Claro que as marcas e os padrões
“kármicos” de cada um vâo indicar a
intensidade e a durabilidade destes períodos, mas acredito que o processo é o
mesmo. Então meu aprendizado a compartilhar: cuide de sua mente e intensifique
sua prática nos momentos de harmonia, de segurança, use estes momentos para
solidificar suas relações criando mais confiança com o outro e quando esse
fluxo começar a se tornar negativo evite a qualquer custo à posição egóica de
se voltar para si mesmo achando que tudo que acontece é por você ou para você e
veja que a sua volta tudo entra no mesmo fluxo de tensão, pelo menos no que
está dentro de sua percepção, e então
assim você entenderá que não é culpa de ninguém nem sua, que somente existe um
padrão de mudança que faz com que tudo esteja onde deve realmente estar, e da maneira
que tudo deve realmente acontecer e você poderá perceber a sincronicidade e a
perfeição de cada momento. Então nesta postura você poderá ser realmente útil
ao outro pois fora da posição egoísta poderá mesmo nos momentos difíceis ajudar
pois esta é sua responsabilidade a partir do momento que lhe foi ensinado que
deve ser assim, basta perceber, vivenciar o ensinamento, este é o nosso papel e
nossa responsabilidade como praticantes.
Mas lembrando que isso vale para qualquer um, basta ter a
sensibilidade e a vontade de olhar as situações de uma maneira mais abrangente,
menos egoísta, intimamente já temos esta capacidade e já é um bom começo.
Texto revisado por : Paulo Rogério Ayres Lage
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