sábado, 10 de setembro de 2011

O insite e a tsunami

Uma vez durante um ensinamento ouvi a seguinte frase : Tudo é perfeito¨. Aquilo bateu forte em minha mente como uma verdade incontestável mas ao mesmo tempo eu não tinha meios de explicar o por que. Ainda não havia a capacidade para uma percepção melhor sobre este meu entendimento¨.

O Darma possui estas particularidades. Conforme vamos livrando nossa mente de toda esta nebulosidade, nossos conceitos e padrões, vamos eliminando os tão falados véus e podemos aos poucos perceber pequenos espaços luminosos que nos proporcionam um vislumbre de sabedoria.

Ao iniciarmos a limpesa de nosso ¨disco rígido¨vamos criando espaços para uma melhor compreensão dos ensinamentos nas palavras de nossos professores, os quais procuram meios de nos ensinar compartilhando suas próprias experiências, suas realizações, e é nesse terreno que acontecem os ¨insites¨, quando nos tornamos ¨vazios, limpos para recebermos suas palavras.

Estes são momentos muito importantes da prática onde tenho contato com a minha própria experiência com meu próprio entendimento. É quando este entendimento nos toca de uma maneira tão profunda que chega a tirar o fôlego. Nos damos conta de quão perto estava, aliás de que estava todo o tempo ali e tivemos que ouvir tantas e tantas vezes de tantas maneiras diferentes para entender.

Com relação a observação ¨tudo é perfeito¨, o meu entendimento me fez perceber que o fato de existir a imperfeição já é uma prova da existência de seu contraponto. Quantas vezes já não ouvimos teses filosóficas de que sem o mal não haveria o bem, sem o feio não existiria o belo, sem a tristeza, não experimentaríamos a alegria e sem a sabedoria não nos daríamos conta de nossa imensa ignorância, e assim por diante.

Em nosso mundo dual, percebo que tudo se processa dessa maneira, a forma faz surgir sua antítese.

Uma imagem me marcou profundamente este ano, a imagem da Tsunami varrendo o japãp. Lenta e inexorávelmente deslizando, arrastando tantos seres.  Sem julgamento ela vinha tolhendo todas aquelas existências, sem julgar seus atos, apenas limpando tudo e criando uma nova realidade, um novo mundo. Triste é claro, amamos nossos companheiros nesta jornada, nos emocionamos, sentimos raiva por nossa impotência, mas a onda simplesmente estava lá e não se podia fazer absolutamente nada.

Juntando diversos ensinamentos, a imagem da onda me trouxe a percepção de que somos esse processo contínuo em mutação se movendo constantemente ao sabor da causa e efeito, o carma.

Cada um de nós segue como um fluxo, com suas marcas criando sua próxima existência e ao mesmo tempo um número incontável de fluxos de todos os seres senscientes também compondo essa onda caminhando juntos, criando mundos.

Como nós seres tão deludidos podemos negar tamanha perfeição? A cada segundo nos tornamos outro ser, dentro desse estado contínuo de movimento em bloco. Então percebemos a afirmação de que todos caminhamos juntos interagindo uns com os outros para formarmos esse mundo onde vivemos agora, completamente conectados  pelas causas e efeitos de nossos atos. Portanto, não posso generalizar nada baseada em minhas referências. O que posso perceber é a lógica do ensinamento sobre os 4 kayas, numa linguagem simples: a essência,  sua energia em movimento , a  manifestação em todas as forma e a sua unidade já que não estão em momento algum separados.

O que me acontece nessa vida é sim o resultado desta energia que proporcionou a minha manifestação neste mundo, e esta manifestação ao mesmo tempo depende de infinitas vidas de onde venho me deslocando nessa imensa tsunami de energia fluindo, se movimentando e se manifestando neste numero infinito de seres.

Percebi a maravilha desta oportunidade, quando nos apercebemos tão insignificantes para mudar o fluxo de nossa existência mas ao mesmo tempo termos a possibilidade de perceber mais dela e através desta percepção melhorar os rumos que ela vai tomar. Somente com o ato de amar, de nos abrir, nos deixar ir, desapegar, sem julgar. Somente sentir e compartilhar esse imenso amor , mesmo nos momentos de tristeza e dor, de horror e de insatisfação, pois os momentos de alegria são dádivas passageiras onde podemos descançar, nos recuperar para continuar a evoluir inexoravelmente nesta tsunami manifesta.

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